Oração ao Tempo

  • Maiana Pereira

Aos que me leem e estavam cansados do mês de janeiro trago boas notícias: é fevereiro. Meses com cinco semanas e poucos feriados geram muitas reclamações e piadas nas redes sociais. Agosto que o diga. Parece que o tempo demora a passar e para quem recebe salário nos cinco primeiros dias úteis esperar o próximo mês é rotina. Alguns poucos textos atrás eu falava com vocês sobre a mudança de ano. Mudanças que esperamos, mudanças que são convenções de calendário, cansaço de tudo isso. A data mudou e as reclamações são as mesmas. A energia extra que você sentiu e te fez pensar em novas metas parece ter ido. O ano já começou? Dizem que começa depois do carnaval. Vamos emendar janeiro com o carnaval. E depois o que vem? Outra data? Mais outra? E o tempo está acabando de novo. O que aconteceu? O tempo não passa e o tempo corre. E agora?

Imagem: Reprodução. Cena do filme “Feitiço do Tempo” (1993)

Os fãs de filmes sobre viagem e paradigmas temporais devem conhecer o filme “Feitiço do Tempo”.  O personagem de Bill Murray fica preso em um loop temporal revivendo sempre o mesmo dia, o dia da marmota, sem vivenciar no dia seguinte as consequências das ações diferentes que tomou ao longo do dia. O dia seguinte é acompanhado por um reset e ele começa a reviver as mesmas coisas e as mesmas situações. Apesar do dia ser o “mesmo”, a postura dele muda ao longo dos dias. Ele passa da negação e do deboche à tentativa de mudar e fazer o melhor do dia mesmo que para os outros o tempo não passasse. A experiência dele não era a mesma. Ele mudou vivendo aqueles dias, mesmo que aqueles dias tenham sido igual a todos os outros.

Gosto dessa ideia de mudança nesse filme. É impossível não mudar. O tempo aqui eram dois, a sensação vivida pelo protagonista de mudança e outro tempo que era vivenciado por todos ao redor. O tempo é relativo, ou pelo menos é isso que entendi sobre a teoria complexa do Einstein. Para quem faz exercício de prancha na academia um minuto parece uma eternidade. Para quem reclamava de janeiro, os dias pareciam infinitos e o dinheiro já era finito. Há quem não consiga ouvir um áudio sem ser na velocidade 2x porque o tempo é precioso. E vamos nos acostumando a sentir pressa, a reclamar de ações que se repetem quando nosso comportamento segue se repetindo.

Talvez você esteja já pensando “Maiana, dá um tempo! Me deixa reclamar”. Eu reclamo junto. Mas, qual postura vem depois da reclamação? Reclamar para aliviar é uma coisa. Viver agindo da mesma forma e esperando resultados diferentes é perda de tempo. Eu sei que talvez algumas vezes você esteja com pressa e parece aceitável adiantar a velocidade de algo que você consome digitalmente. Mas, você está treinando teu corpo para lidar com essa velocidade de informações que não é a mesma velocidade que existe em interações não digitais. Isso pode te levar a se tornar impaciente e perder algumas habilidades de interações interpessoais. Você quer que todos te ouçam e te entendam, certo? Você quer sentir que dedicam atenção e tempo a você. São necessidades humanas. Você está disposto a fazer o mesmo pelo outro?

É sempre tempo de mudança. Mesmo sentindo que o tempo não passa. Para o ansioso, talvez pareça que o tempo passe rápido demais, sufoque e que não dá tempo de nada. O sol é o mesmo todos os dias, mas a cada dia você está mais velho, diferente e tem uma nova história para contar. Qual história você quer contar daqui para frente? Quem é a pessoa que você quer ser? Como ela se encaixa na maneira que você vivencia o tempo? Acredite em mim, dá tempo. Ainda é dois de fevereiro. Feliz dia de Iemanjá para quem é de Iemanjá. E para todos nós, um feliz Dia da Marmota.

Imagem: Reprodução. Cena de “Doctor Who” (2005)


Maiana Pereira

Psicóloga, baiana, feminista e palestrinha que ama dar um pitaco. Falo sobre os cotovelos sobre tudo que me move. Sou daquelas que a vida tem uma trilha sonora própria. Quero saber mais, ouvir mais, ver mais, ler mais, ver como cada contexto se relaciona. Vem comigo?
Conheça também meu site https://www.maianapereirapsi.com/

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