Fuga com Laís: viajar sozinha para ilha mágica de Boipeba

  • Laís Sousa

Fotos: arquivo pessoal e completo no @laissousa_


Todo mundo precisa fugir, um tempo para ganhar-se! Dessa vez eu ganhei o mundo sozinha, realizando o sonho Boipeba: uma ilha localizada em Cairu, litoral da Bahia. Cercada de um lado pelo oceano e de outro pelo Rio do Inferno, no geral, é um apanhado de terra com rara beleza natural e grande diversidade de ecossistemas. Apelidei de "ilha mágica" porque lá tem uma ancestralidade poderosa, receptividade surreal e energia que só quem tem sensibilidade sabe e sente.

Atravessei a partir do porto de Valença, terminal de onde saem lanchas rápidas. Já havia comprado as passagens antecipadamente pelo site Island Tour. Cheguei no fim de tarde de um dia nublado para presenciar um pôr do sol em tons de cinza e dourado ao lado da Igreja do Divino Espírito Santo, no topo de uma ladeirinha abençoada.

Sou do tipo de viajante adepta ao “se quer descansar, fica em casa”, mas encontrei um cantinho aconchegante para ter como ponto de parada localizado a 10 minutos a pé da movimentada Praça Santo Antônio: Casa Netuno, nome que o dono, o Chileno Ninco, colocou em homenagem ao seu cachorro e melhor recepcionista que existe. Cama de casal, ventilador de teto, frigobar, banheiro com chuveiro quente, roupas de cama e banho limpinhas e tela de proteção contra mosquitos é tudo que preciso ao final de dias intensos. Destaque para o café da manhã personalizado e com pão artesanal quentinho todas as manhãs.

Não me senti insegura, enquanto mulher e turista, para andar sozinha e fazer atividades por lá em nenhum horário. Isso é tão maravilhoso que cheguei a estranhar pelo costume de ser precavida. O povo é especialmente atencioso e receptivo, do tipo que dá vontade de viver em cada cumprimento e educada orientação. Lá, os pés são nossos principais meios de transporte, mas tem os quadriciclos, carroças e um trator com extensão que apelidei de tratônibus, o coletivo com horários definidos que faz corridas por cerca de R$ 15.

Para começo de aventuras, fui conhecer a barraca Ju Drinks, do Juliandson, e tomei a mistura especial de cacau com acerola e limão (R$ 25) feita por ele que também é o guia fantástico com quem, na manhã seguinte, fiz o passeio de quadriciclo 2 (R$ 180) - o melhor para conhecer a ilha por dentro. Histórias como a do caminho assombrado, parada na fonte da juventude e muita diversão garantidas no roteiro que oficialmente passa por Moreré, Povoado de Quilombolas Monte Alegre, - por pedido meu e da melhor parceira de passeio que eu poderia ter encontrado, a Kleo, ele saiu do roteiro para dar uma passadinha no caminho de flores de Bainema -, Praia das Amendoeiras, Praia de Castelhanos e Cova da Onça, finalizando com um pôr do sol perfeito no mirante. Vale exaltar a queijadinha da Dona Maria (R$ 20) e a variedade de sabores do chocolate artesanal da Cleide, ela que fabrica e tem um carisma que torna a visita a sua casa uma parada obrigatória para conhecer as maravilhas da ilha. Para jantar, nada como ficar indecisa com o cardápio excepcional do restaurante beira Flor da Lua e escolher sem arrependimento a experiência gastronômica Selvagem (R$90), um polvo grelhado na pedra acompanhado com batata frita caseira, arroz negro e salada mista.

No dia seguinte, era meu momento de fazer o passeio “volta a ilha” de lancha (R$ 220), que acabou sendo adaptado apenas à parte interna da ilha para evitar a realidade de maré perigosa e zero piscinas ou peixinhos. O passeio oficial sai do Pier na Praia Boca da Barra, passa pelas piscinas naturais de Moreré, para na praia de Bainema, Castelhanos, Cova da Onça, Tapuias e retorna pelo Rio Boca do Inverno. No meu roteiro com a lancha do Expedito, fomos à Castelhanos, onde pude revisitar a barraca Renascer, que oferece um atendimento acolhedor e delícias como pastel de polvo-carangueijo, banana da terra e queijo (R$40), drinks de cacau-morango com Biribiri (R$25). Dei uma passada também no Museu do Sem Noção, batizado em homenagem ao gato do seu João, que a mais de 10 anos vive em uma cabaninha bem ali, apresenta ossos e búzios de diversos tipos e, para mim, fez um churrasco de dendê especial. Almocei uma divina lagosta na manteiga com abacaxi no Restaurante do Mar (R$ 100), em Cova da Onça. Passamos em uma caixa de areia para banho e seguimos até o Tapuias, restaurante flutuante reconhecido como Portal das Ostras onde comi meia dúzia de ostras gratinadas com queijo e palmito (R$ 20) reverenciando o pôr do sol.

Em mais um dia intenso, junto a Kleo, minha parceira desde o primeiro encontro, percorremos 12 km a pé entre as praias. Com o caminho mais diversificado possível entre escadas, travessia de rio, coqueirais e beira mar, saímos da Boca da Barra passando por Outeiro, Tassimirim, Cueira, Moreré e Bainema, onde aproveitamos drinks do Ligeirinho e a famosa casquinha de siri do Restaurante Sabores da Terra, que além de delícias oferece um ambiente gramado com conqueiros prazeroso para descansar após uma boa ducha de chuveirão com água doce. De volta a tempo de curtir o famoso pôr do sol na Pousada Céu de Boipeba, uma tradição que realmente vale a pena, uma vez que todos ali entram descalços, provam delícias como o drink de morango com amora (R$ 35) e saem de alma leve. Por volta das 21h, fiz meu passeio noturno de caiaque Ecomar (R$ 155). Minha “Experiência Avatar” foi na companhia maravilhosa de Martha, a cachorrinha Bimba e Pim, onde em meio à escuridão das águas e árvores do mangue pude ver brilhar plânctons. Sem dúvidas, uma experiência inesquecível!

Em virtude do patrimônio natural, a região foi reconhecida pela UNESCO como Reserva da Biosfera e Patrimônio da Humanidade. Há boatos (todos verdadeiros) de que falta pouco para conseguirem realizar uma mega construção tipo resorts em uma quilométrica área privatizada que toma quase que um lado inteiro da ilha e está dividindo os nativos entre os que desaprovam a interferência e àqueles que enxergam como avanços e oportunidades. Eu estou do lado que teme que algo seja destruído ali...

O nome de Boipeba se originou da palavra tupy m'boi pewa que quer dizer Cobra Chata, em referência a tartaruga marinha. Não vi nenhuma, nem cobra nem tartaruga. Observei também poucos pássaros... Mas tem muitos carangueijos diferentes dos vermelhos que estava acostumada, e além das cores azul e laranja, levam nomes diferentes também. Surpreendentemente lá existem muitos gatos, felinos que são famosos por sua frescura, mas que lá interagem tranquilamente deitados na areia da praia. Destaque especial para os cachorros. Lá tem muito mesmo, acredito que até mais que os 4 mil habitantes! Todos os doguíneos parecem ter tutores, são limpinhos, amigáveis e reconhecidos nominalmente por quem vive ali...

Fui em baixa temporada e perdi indicações especiais como a noite no Bar das Meninas (fui, mas não estava funcionando) e a apresentação de Nina no Noite Latina - não teve apresentação, mas que energia especial tem a Nina! Por conta da bagunça que o vento estava fazendo e lua em fase minguante, não rolaram as famosas piscinas naturais, transparentes e com peixinhos, já que a maré tava alta pela manhã, com águas em tonalidades de verde e azul mais escuro. Ou seja, olha a lua antes de ir e dê preferência à lua nova ou cheia. Se não coincidir com sua folga ou feriado, arque com as consequências como eu e já garanta a sua desculpa para voltar…


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

Comentários


Instagram

Facebook