O ESTRANHO CASO DO BRASILEIRO QUE...

  • Laís Sousa

                               

Divulgação/Elo Company / Pipoca Moderna


Por Laís Sousa

Choca o mundo o fato de que um país com 56% da população negra tenha índices tão alarmantes de racismo, assim como também é chocante ver que um exportador de novelas com filmes premiados e reconhecidos mundialmente, como é o Brasil, ainda receba tantos narizes torcidos em rejeição vindas dos próprios patriotas às produções nacionais.

Eu queria falar sobre Little Fire Evewhere (Amazon Prime) ou talvez sobre como não estou sabendo ficar órfã de This Is Us (Star+). Poderia ser sobre Run the World (Starz), sobre como amei a entrevista de Oprah Winfre a Viola Davis (Netflix) ou outras tantas produções com protagonismo negro que precisam fazer parte das nossas reflexões, discussões e afins. Permita-me a piadinha: de Them, Corra!

[Se quiserem que me aprofunde sobre algum dos citados manda um sinal, senão, só aproveita as dicas mesmo…].

Mas, tendo em mente o dia do cinema brasileiro (18.06) vou confrontar o estranho caso dos brasileiros que “não pagam pra ver filme nacional”. Te desafio a ver, porque, sabemos bem, nosso Hollywood é cá embaixo. Tirar o sapatinho e colocar o pé no chão se torna necessário. O brasileiro é notoriamente diferente, mesmo quando tenta imitar as terras do “tio Sam”.  Precisamos dar ênfase ao que é nosso, merece um olhar contextualizado e reconhecimento!

Poderia falar dos clássicos Central do Brasil (98), A que Horas Ela Volta? (15); dos icônicos Alto da Compadecida (00), Lisbela e o Prisioneiro (03), Homem que Desafiou o Diabo (07) ou o mais recente Cabras da Peste (21); da febre Tropa de Elite; do saudosismo do Paulo Gustavo que traz os três filmes Minha Mãe É Uma Peça; da importância de revisitar nossa história e sempre confrontar a censura com Marighella (19); ou mais da biografia dos nossos astros como Cazuza, Cássia Eller, Raul Seixas…

Mas escolhi falar de ‘Medida Provisória’. Ouvi um “Pantera Negra” brasileiro?! Receba esse shalom podendo estar de volta aos cinemas!

Lázaro Ramos é um dos maiores ARTISTAS que nós temos, sim! E, como acontece com muitos outros astros, decidiu investir e estrear na direção de longas com este filme adaptado da peça Namíbia, Não!, uma tragicomédia escrita por Aldri Anunciação. E que estreia, “irmões”! Temos aqui um marco de representatividade com maior número de pessoas negras na frente e atrás das telas.

O longa retrata um Brasil num futuro nem tão distante, em que negros são chamados de pessoas com melanina acentuada e lutam por seus direitos básicos. Podemos acompanhar conflitos e tensões ao lado de uma família negra em classe média-alta que vê tudo mudar quando o governo aprova uma medida provisória na qual devem ser capturados e enviados para a África, a fim de serem "devolvidos" para os locais de seus ancestrais.

Em apenas 2 horas, a mistura de drama e comédia traz um terror nada sutil, como o racismo também não é. Assistimos querendo acreditar que aquela sociedade esteja longe da nossa realidade, ao tempo em que desconfiamos que podemos chegar a esse ponto…

Complexas experiências são brilhantemente retratadas com bastante veracidade na pele de estrelas como Taís Araújo no papel de médica negra e Seu Jorge falando sem pudor. O Alfred Enoch (aquele de Harry Potter e How To Get Away With Murder) convenceu como advogado brasileiro que se questiona entre a moral e a injustiça. Adriana Esteves (Carminha) e Renata Sorrah (Nazaré) nunca decepcionam como vilãs, não é mesmo?! Mas ainda teve participações como do Emicida e tantos outros atores negros do teatro brasileiro.

Tão estranho como se negar ao melhor que o próprio país oferece, é assistir esse filme e não querer rir se apavorando, se emocionar querendo debater intensamente com toda a razão que houver, entender que nossas imperfeições são, de fato, incomparáveis e, portanto, imperdíveis. No mínimo, interessantes! 

É impossível se dispor a assistir filmes como este e desconhecer os avanços e progressos do cinema nacional. Das belas artes, sim, podemos nos orgulhar enquanto país. É estranho não desenvolver um patriotismo nesse aspecto…

Nas vertentes de registro documental, imitação, paródia e reflexão, conduzimos nossa originalidade artística com um tanto de identidade, de forma que nenhuma Regina (Sem)arte ou Mário seriam capazes de colocar “numa fria”…

Somos plurais, culturais. Temos inquietude intelectual, conceitos e ideias. O que fomos, o que somos e aquilo que poderíamos ser tem um potencial enorme, não apenas para chocar o mundo, mas para fazê-lo parar para nos assistir!

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Sobre a autora: Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas vagas e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e comentarista por esporte sorte. Vamos fugir!

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Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
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