TODA MÃE AMA?

  • Vanda Araujo

Foto: Reprodução/Uol


 

Por Vanda Araujo

Todos carregam a influência de uma mãe. Através de sua atuação se desenvolvem conceitos básicos de autoimagem, auto estima, auto percepção, mas sua influência também pode ser problemática quando o papel exercido é tóxico, devido a uma atitude negligente, ciumenta, chantagista ou controladora.

São inúmeras as mulheres, cujas histórias de maus tratos, negligência, ciúmes, controle excessivo exercidos pela mãe, revelam alteração da saúde mental, deixando feridas relacionadas ao self e à área de conexão emocional.

Nem todas as mães amam suas filhas.

Durante a infância, quando o ego ainda não possui recursos suficientes de adaptação, defesa e possivelmente, de superação, alguns traumas são inevitáveis. Estes, compreendidos como a sensação de impotência diante de situações de risco, reais ou imaginárias, podem se associar a mutilações físicas, psíquicas e até a própria morte.

Devido à necessidade inerente ao humano de se vincular, de ser amado, a criança se esforça para não enxergar as manipulações e abusos maternos, busca acreditar estar equivocada, preferindo se ater aos seus conflitos internos, do que assumir ou confrontar o lado sombrio da mãe idealizada. Tais defesa e opressão maternas podem persistir mesmo após o falecimento desta, como uma espécie de culto a sua imaculada memória, cuja influência negativa pode continuar ressoando na vida adulta dos filhos.

A mãe controladora, busca combater possíveis movimentos de independência e liberdade, por sentir-se traída ou ameaçada. Ela pode ter atingido a maternidade por caminhos indesejados, projetando nas filhas não apenas sentimento de desamor, mas de serem percebidas como um inconveniente, um obstáculo e até uma projeção daquilo que as mães queriam ser.

Se você sofre ou já sofreu no convívio com uma mãe narcisista, saiba que entender os efeitos da sua criação possibilita a auto compreensão, a autocura e a capacidade de assimilar os próprios pensamentos sobre si mesmo, o próprio corpo e a explorar possibilidades.

O autoconhecimento te capacita a se acolher e libertar a sua criança interna que anseia ardentemente pela aprovação materna.  A impossibilidade de tal aprovação se justifica na existência de mães com muita dificuldade de amar que, presas em si mesmas, não conseguem perceber seus filhos e, de forma especial, às filhas como identidades separadas de suas necessidades pessoais. Diante dessa atitude, a relação mãe-filha se transforma em um jogo de poder.

Faz-se necessário compreender o amor materno, passível de imperfeições como todo sentimento humano, pois, a necessidade da criança pelo amor de sua mãe é uma força essencial, e diante da indisponibilidade essa necessidade não diminui, ao contrário, passa a existir com o terrível e prejudicial entendimento de que a única pessoa que deveria amá-la, não a ama. Esse conflito afeta especialmente a área dos relacionamentos.

A generalização de que todas as mães amam suas filhas é uma suposição colorida pelo senso comum, responsável por parte do sofrimento da menina que foi tratada como rival por sua mãe, cuja noção de “se toda mãe ama e comigo não acontece”, passa a sentir-se defeituosa, insuficiente, duvida de suas habilidades e, por acreditar que ao tornar-se “suficientemente boa” conquistará o amor da própria mãe, passa a perseguir sua aprovação.

A luta pelo ganho da atenção e aprovação maternas, travada durante a infância pode resultar numa adulta que não medirá esforços para ganhar a atenção e aprovação alheias, valorizando o que faz e não quem é, legado com frequência reproduzido aos filhos, perpetuando o círculo da infelicidade e da dependência.

Acrescente ao sentimento de desproteção crônica a incompreensão de uma sociedade que desconsidera tal realidade, por mostrar-se contrária ao que considera uma lei natural.

Então o que fazer, seguir engolindo o choro, a dor, a expressão do que a impede de ir pra vida com força de realização?

É preciso perdoar os pais para seguir livre?  Vamos “falar” sobre isso no próximo encontro?

Para essas mulheres que experienciam a dor de sentirem-se sós, abandonadas a si mesmas e sem poder usufruir de apegos confiáveis, dias comemorativos como o das mães, facilmente se tornam gatilhos que não só as fazem revisitar a dor de uma infância, adolescência e até adultez roubadas, como também a se esconder ou fingir falsos sentimentos para se sentirem aceitas.

Repensemos os tabus, julgamentos e as opiniões cotidianas que, inadvertidamente, podem intensificar a dor de alguém que já se encontra em sofrimento. A empatia empodera a informação e desconstrói mitos, pois faz compreender os possíveis sofrimentos psíquicos que a carência do vínculo materno saudável pode provocar, o que ajuda a desfazer o mito da idealização desse sentimento.

Não são raras as situações em que existem pessoas fragilizadas ao nosso redor, que podem ser afetadas negativamente quando são criticadas por não fazerem parte da regra de idolatrar a mãe.

Desejo que no seu processo de busca de liberdade, seja priorizado o acolhimento da criança interior ferida, para que o resgate de suas amarras te livre da culpa e oportunize cura e autonomia existenciais.

Redirecione sua atenção e cuidado para si mesma, a fim de se perceber capaz de agir em prol da sua própria felicidade.

Acredite, a criança ferida que vive em você, como sobrevivente de uma infância roubada, pode encontrar resgate e redenção. 

Eu te acolho!

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Sobre a autora: Eu sou Vanda Araujo (abreviatura, viu?!). Sou graduada em Psicologia, especialista em Terapia Familiar Sistêmica, com formação em Terapia Comunitária Integrativa e em Análise Corporal.  Atendo adultos (individual e casal) de forma predominantemente remota e te afirmo que a maior distância entre as pessoas não é geográfica, é afetiva. Não importa em que parte do mundo você esteja, a distância é indiferente. O que é realmente importante é a relação sincera e confiável que estabelecemos entre eu e você.

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