VOCÊ TEM FOMO DE QUÊ?

  • Vanda Araujo

Foto: Freepik


 

Por Vanda Araujo

 

Você leu corretamente. E tá valendo a pergunta. Precisamos falar sobre FOMO!

O avanço da tecnologia e o acesso à internet trouxeram facilidades, mas também, para muitos, a dificuldade de se desligar do mundo online, a grande necessidade de participar do que está acontecendo virtualmente além de um senso de urgência que tem se normalizado nas redes sociais que, facilmente adaptadas à nossa vida, às nossas nóias, ao nosso antigo hábito de valorizar mais o que poderíamos ter do que aquilo ou quem realmente temos, faz esquecer de que o nosso melhor recurso pode estar no centro do que é rotineiro.

O termo FOMO é uma sigla para “Fear of missing out”, que em português seria “medo de ficar de fora” ou de estar perdendo algo gratificante e tem sua origem  associada ao nível de engajamento social online e ao uso problemático da tecnologia.

Esse termo gringo foi criado em 1996, pelo americano Dan Herman, para descrever o medo familiar de se sentir excluído ou ao sentir que está perdendo algum acontecimento muito importante. Em 2004 Patrick J. McGinnis citou essa expressão em um artigo na revista “The Harbus”, da Harvard Business School.

Desde então, várias pesquisas relacionam o sofrimento psíquico com redes sociais,  Não, não é demonização! No entanto, não dá para negar os prejuízos à saúde provocados por sua utilização indiscriminada. 

Pessoas com FOMO apresentam forte tendência a sentimentos ambivalentes em relação às redes sociais. Ao passo que gostam de visualizar conteúdos para se espelhar, também apreciam postar tudo o que fazem em tempo integral.

Ou intencionam chamar a atenção para si por meio de uma realidade que está longe de ser verdadeira ou se prostram passivamente a admirar, se comparar e passar a negar o valor da própria realidade. Perde-se um tempo precioso com conteúdos que não acrescentam e que ainda colocam em xeque a saúde mental e física e a qualidade dos relacionamentos familiares, sociais e afetivos.

Essa desordem pode afetar pessoas de qualquer idade, mas é mais comum na faixa etária de 16 a 26 anos, os maiores adictos das redes sociais. Isso acontece por diversas razões decorrentes de conflitos familiares, questões de autoestima e crises de identidade.

E sim, o uso frequente e para alguns excessivo de redes sociais, sites e serviços de mensagens pode ajudar a agravar, emocional e psicologicamente, tais sentimentos. Devido às características comportamentais e aos males que gera, essa angústia social tem se tornado um problema para muitos.

Você se percebe mais ativo em alguns momentos, noutros mais passivo? Pois é, a forma como nos comportamos nas redes sociais diz muito sobre entrarmos ou não no conceito de FOMO

O FOMO envolve dois fatores básicos: O primeiro caracteriza o temor de que os outros estejam aproveitando experiências gratificantes às quais está ausente, apresentando um complexo de fatores desencadeantes da ansiedade (como preocupação, ruminação mental, temor frequente, etc.) O segundo apresenta o desejo persistente de se manter conectado com pessoas em sua rede social, envolvendo um comportamento (às vezes urgente e compulsivo) com intuito de aliviar a ansiedade.

Atualmente, este fator do FOMO envolve a verificação frequente de redes sociais e serviços de mensagens para manter as conexões sociais e evitar a perda de experiências gratificantes. Comportamento que não acontece apenas de forma ativa, ou seja, quando as pessoas navegam online interagindo com as outras, mas também é frequentemente reativa (ou passiva) através das muitas notificações relacionadas a redes sociais recebido ao longo do dia - para as quais há uma compulsão para responder, ou quando apenas se assa o dedo na tela, sem publicar ou escrever, apenas utilizando o aplicativo para “matar o tempo”.

O FOMO trata da frustração experimentada por seguidores diante de postagens em que veem exibidas o que lhes falta ou sonham realizar. Exibições de viagens, de festas e vidas repletas de grandes eventos estampam as redes sociais, dando-lhes a sensação de serem apenas espectador da vida, que só acontece para os outros.

Quanto ao tempo de uso, uma curiosidade encontra-se no fato de que quanto mais tempo se utiliza as redes sociais, mais se troca um comportamento ativo por um passivo. Ou seja, deixamos de interagir com nossos contatos e nos tornamos apenas seguidores. É como se deixássemos de acreditar no nosso potencial de contribuir e agregar valor para admirar o que me falta no outro.

É irônico como redes criadas com intuito de conexão entre as pessoas tem se tornado um meio de competição de quem tem a vida mais perfeita, contribuindo para que estas se sintam mais depressivas e solitárias.

Se, diante de redes sociais ou após seu uso, você tem se percebido paralisado pela comparação, experimentando sensação de desânimo, de perda de tempo, dificuldade de se concentrar associada a uma irritação crescente, com sentimentos de tristeza prolongada, tente relacionar o que foi citado acima com os seus comportamentos e busque ajuda profissional.

Para combater o FOMO é preciso planejar uma utilização razoável das redes sociais, estipulando metas de uso para que se consiga conciliar o virtual e o real, cultivando o JOMO

Sabe, a gente vive muito pouco para estar a par de tudo o que está acontecendo. Desconecta essa ideia de precisar estar online, ou saber de tudo. Se conecte com o que te deixa bem consigo mesm@. Explore aplicativos com conteúdos que te conectem mais com o seu eu e te desconectem das questões alheias!

Um ponto de provocação nessa escrita é o convite para se rever, aceitar e superar  o FOMO e considerar a JOMO, do inglês, “Joy of missing out”. Em tradução livre, “a alegria por estar perdendo algo”, estar de fora. O que pra muitos seria considerado loucura e até mesmo preocupante, nada mais é do que se permitir aproveitar o “aqui e agora”, que propicia a desconexão externa e a reconexão interna.

Mais do que um sentimento, o JOMO é uma atitude. É se impor e dizer não para tudo que a sociedade impõe como urgente e necessário, mesmo que não o seja de fato. É estar offline por opção, atenta ao redor e desfrutando do que se vive naquele momento - o verdadeiro mindfulness aplicado na prática, no teu dia-a-dia. 

É urgente uma atitude que nos possibilite evitar a angústia desencadeada pela atitude de apenas assistir a vida dos outros passar no rolar da tela, sob os nossos dedos.

FOMO só de nos ausentarmos de nós mesmos!

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Sobre a autora: Eu sou Vanda Araujo (abreviatura, viu?!). Sou graduada em Psicologia, especialista em Terapia Familiar Sistêmica, com formação em Terapia Comunitária Integrativa e em Análise Corporal.  Atendo adultos (individual e casal) de forma predominantemente remota e te afirmo que a maior distância entre as pessoas não é geográfica, é afetiva. Não importa em que parte do mundo você esteja, a distância é indiferente. O que é realmente importante é a relação sincera e confiável que estabelecemos entre eu e você.

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