Laís Sousa fala sobre os En(quadros) da sua escrita no sexto episódio do podcast Correspondência Literária
O podcast Correspondência Literária conversou na última terça-feira (15) com Laís Sousa, sobre sua multifacetada trajetória, seu processo criativo, a relação da arte com a transformação social e os diversos "enquadramentos" da vida e da escrita.
O Correspondência Literária é produzido e apresentado por Ane Xavier, com direção de áudio de Danilo Souza e publicação da Mega.
Laís Sousa é uma comunicadora com formação em Comunicação Social pela UFRB, especialização em Jornalismo Empresarial e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá, e mestranda em Letras Transdisciplinares pela UESB. Sua atuação abrange a redação publicitária, estratégia de mídias sociais, mentorias para mulheres empreendedoras, e a coluna semanal Fuga Crônica, que está disponível nas sextas-feiras na Mega Rádio.
Já no início da entrevista, Laís discutiu seu livro "En(quadro)", destacando a polissemia do título: "En(quadro) é exatamente isso: um convite para pensar fora da caixa (ou dentro dela, dependendo do seu ponto de vista!)." Ela explicou que a obra explora tanto o ato de "encaixar memórias" e "decorar espaços", quanto o de "se posicionar dentro das nossas próprias experiências, mesmo quando nos sentimos meio perdidos na imensidão da solidão urbana". O livro narra suas vivências como mulher jovem, solteira e negra morando sozinha em uma metrópole, abordando temas como humor, reflexão e "histórias malucas".
Sobre a crônica como gênero, Laís afirmou que ela (a crônica) "permite muito isso: de interpretar, de opinar, de transmitir verdade e compartilhar. É uma fuga para dentro mesmo". Ela ressaltou a importância do humor para lidar com os dias difíceis, mas também a necessidade de reflexão para "enquadrar" e "posicionar". A escrita, para ela, é uma "válvula de escape" e um meio terapêutico de autoexpressão e compreensão, que a acompanha desde a infância.
A transição de uma escrita pessoal para a publicação profissional foi um marco. Laís compartilhou que, inicialmente, não via sua habilidade de escrita como um talento, mas foi "convocada" a valorizá-lo, o que a levou a publicar e a compartilhar, buscando gerar identificação e aproximação com os leitores.
O processo de criação de "En(quadro)", segundo Laís, envolveu a organização de textos preexistentes, escritos durante a pandemia, e a criação de novos materiais. O livro é dividido em capítulos que abordam desde a vida íntima em casa até as relações profissionais, lazer e amizades, e as perspectivas pós-isolamento. A autora revelou que incluiu no livro textos que inicialmente não pretendia compartilhar, compreendendo que a vulnerabilidade é essencial para gerar identificação e permitir que as pessoas "acessem" a obra em sua totalidade. Para ela, o maior desafio foi a "liberação" desses textos mais íntimos, um processo que envolveu terapia e superação do medo de julgamentos.
Ao abordar a coluna "Fuga Crônica" na Mega Rádio, Laís destacou a liberdade que o espaço oferece para explorar diversos assuntos, diferenciando-se do recorte temático de "En(quadro)". Ela acompanha as notícias e o que está em alta, transformando esses temas em crônicas que buscam gerar identificação e compreensão. A jornalista enfatizou sua crença em uma comunicação que prioriza a verdade, a proximidade e a afinidade com o público.
A discussão sobre o processo criativo também incluiu a relação com a inteligência artificial. Laís se posicionou como "aliada e amiga" da tecnologia, acreditando que a IA é uma ferramenta que a auxilia, mas que jamais substituirá o elemento humano, a "loucura" e a experiência individual que permeiam sua escrita. Para ela, a IA pode replicar padrões e dados, mas não a vivência, a visão e a opinião intrínseca do autor, que são irreplicáveis.
Para finalizar, Laís Sousa enviou uma "carta" ao próprio Espírito de "En(quadro)", e expressou o seu desejo de que o livro continue a alcançar e abrigar outras pessoas, incentivando-as a "saírem das caixinhas, pensarem fora das caixinhas, entenderem seus potenciais". Ela vislumbra que a obra inspire a liberdade de "ir e voar", e a capacidade de "entender que sempre tem algo além".