Quais foram os melhores discos nacionais lançados em 2025?
Fonte: Capas dos discos de Luedji Luna, Irmãs de Pau, Terno Rei, Rachel Reis e Duda Beat
O mês de dezembro é o momento do ano em que as plataformas de streaming de áudio e música divulgam as estatísticas dos artistas e canções mais consumidas durante o ano. O Spotify Wrapped, por exemplo, configura-se como um meio de divulgação e confraternização entre amantes de música que utilizam a plataforma, levantando os dados individuais dos usuários e os seus respectivos consumos de música.
Em 2025, artistas como Henrique e Juliano, Grupo Menos é Mais e Jorge e Mateus configuram entre os artistas mais consumidos no Brasil, enquanto as músicas Tubarões - Ao Vivo (Diego e Victor Hugo), P do Pecado - Ao Vivo (Grupo Menos é Mais e Simone Mendes) e Coração Partido (Corazón Partío) - Ao Vivo (Grupo Menos é Mais) estão entre as músicas mais transmitidas. Esse momento de compartilhamento de músicas que fizeram parte do seu ano também serve como uma chance para a descoberta de novos artistas, levando em conta as estatísticas de outros usuários da plataforma. Portanto, estou aqui para indicar discos lançados esse ano que talvez não tenham passado pela sua rotação e que eu acho que valem a pena o play.
Um Mar Pra Cada Um - Luedji Luna
Cantora baiana nascida em Salvador, Luedji Luna despontou na cena musical nacional com o hit Banho de Folhas, lançado em 2017. Desde então, vêm chamando a atenção com suas letras mais íntimas e voz suave, retratando suas vivências ao longo de quatro discos de estúdio lançados até hoje. Este ano, inclusive, foram lançados dois. Além de Um Mar Pra Cada Um, Luedji lançou Antes Que A Terra Acabe, um trabalho que acompanha e continua a narrativa do disco que eu coloco como destaque.
É um trabalho de R&B e jazz que compõem o trabalho da artista em ambos os projetos, elaborando temas que envolvem o amor e os relacionando com metáforas que envolvem a água (e a correnteza, o fluxo, os encontros e os desencontros). Destaque para a faixa Kyoto, que possui a participação de Duda Raupp, e a linha “Meu coração é uma bússola, me diz onde é que eu te encontro”. Se você curte o trabalho de artistas como Djavan e Liniker, certamente as músicas de Luedji Luna serão uma boa nova adição à sua playlist.
Foi com este disco, inclusive, que a cantora levou o seu primeiro Grammy Latino na edição deste ano, sendo considerado o Melhor Álbum de Música Popular Brasileira / Música Afro-Portuguesa Brasileira de 2025.
Gambiarra Chic, Pt. 2 - Irmãs de Pau
Se tem uma dupla que fez barulho em 2025, sem dúvida foi o duo composto por Vita Pereira e Isma Almeida. Pelo menos no mundinho LGBTQIAPN+, as funkeiras chegaram em um novo nível de popularidade com o lançamento de colaborações com nomes internacionais como o da Sevdaliza, na faixa Maria Magdalena, e o lançamento do terceiro disco, Gambiarra Chic, Pt. 2.
O trabalho das artistas amplia o que foi feito no Gambiarra Chic, Pt. 1, tanto no número de músicas, número de colaboradores e variedade de gêneros musicais trabalhados. O foco da dupla sempre foi o funk, mas a cada novo lançamento é possível perceber a influência que gêneros do tipo eletrônico, dance e rap, além de trabalhos de dj’s, como é o caso das músicas em colaboração com o também duo Cyberkills, resultam na construção da mais nova edição de Gambiarra Chic,.
Como dito anteriormente, é um trabalho de funk, então se você curte o gênero musical, com letras atrevidas e explícitas, além de batidas fortes que vão te fazer dançar, não teve disco que mais teve êxito nesse objetivo do que este. Destaque para a faixa Passaporte y Copão, que faz uma crítica às estruturas sociais que desencadeiam em espaços como a periferia: “A divisão geográfica separa o bagulho, separa as comidas [...] As estruturas das gomas também são diferentes, A periferia não é bem pensada, muito menos bem arejada”.
O duo infelizmente declarou um rompimento em outubro desse ano, no momento mais fértil da sua carreira. Portanto, o Gabiarra Chic, Pt. 2 é, possivelmente, o último trabalho em conjunto de Vita e Isma, que seguem carreira solo no ano seguinte.
Nenhuma Estrela - Terno Rei
A banda de indie-rock, composta pelos músicos Ale Sater, Bruno Paschoal, Greg Maya e Luís Cardoso, teve seu momento de ascensão com o lançamento do disco Violeta de 2019. Desde então, vêm ocupando espaços cada vez maiores com shows em festivais como o Lollapalooza e o Rock in Rio, bem como a colaboração com grandes nomes da música nacional como o eterno Lô Borges, presente no mais novo trabalho do grupo, Nenhuma Estrela, na música Relógio.
A banda é recorrente em tratar temas que desenvolvem a ideia de memória, de crescimento, de desenvolvimento de maturidade, da mutabilidade das relações e de arrependimentos, utilizando elementos do rock e psicodelia na construção das suas faixas. É um gênero que se assemelha às bandas O Terno e 5 à Seco, portanto, se algumas dessas bandas esteve presente na sua retrospectiva de final de ano, Terno Rei é um bom novo grupo a se conhecer. Destaque para a faixa Programação Normal, onde os compositores Bruno Paschoal e Ale Sater escrevem, “Se tudo que eu não fiz me assombra, Agora eu sei que não tem volta, Tarde para Recomeçar, Ou cedo para desistir?”
Divina Casca - Rachel Reis
A baiana de Feira de Santana lançou seu segundo disco, intitulado Divina Casca, em abril deste ano. Rachel Reis certamente é um grande nome da música brasileira contemporânea, tendo sido reconhecida pela Academia do Grammy Latino na mesma categoria que a Luedji Luna durante a edição mais recente da premiação, e na categoria de Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa com o seu disco de estreia, o Meu Esquema.
A artista compõe sobre o amor de uma maneira única que só a Rachel Reis poderia fazer, entrelaçando com a narrativa das músicas ideias de autopreservação, espiritualidade e anseios de ter suas ideias espalhadas pelo mundo em formato de canções. Se você curte MPB e Pop, Divina Casca é o melhor álbum do ano que mistura elementos de ambos os gêneros musicais, com pitadas de Pagodão Baiano, como na música Apavoro em colaboração com Psirico, e de Reggae, na música Tabuleiro, parceria com Don L, Nêssa e Rincon Sapiência.
Particularmente, a minha favorita do disco é Quando, onde a artista escreve: “Quando eu me fiz calada, Quando eu não quis um nome pra chamar, Quando eu pensei que a bebida tava amarga, Na minha cabeça veio o seu nome”. Eu acho uma belíssima canção de amor que descreve aquele momento que você não quer mais ver ninguém, está no seu limite de interações sociais, mas que você não se importaria de estar com mais alguém se esse alguém fosse uma pessoa amada.
Esse Delírio Vol.1
A pernambucana Duda Beat continua sendo sinônimo de entrega de qualidade. O disco do ano passado, o Tara e Tal, certamente direcionou um novo olhar da música Pop sobre como é possível experimentar com os gêneros de fora. A artista e seus colaboradores utilizam do Eletrônico, Drum and Bass, Dance e Rock de uma maneira muito única, convincente, orgânica e única. Nenhuma pessoa artista no nível de popularidade da Duda Beat, ou até mais populares que a cantora, conseguem ousar tanto e serem tão bem sucedidas no resultado final.
Em 2025, a cantora lança a coletânea de músicas, ou podemos chamar de EP (Extended Play, quando o projeto não é longo o suficiente para ser considerado um disco) chamada Esse Delírio Vol.1. O trabalho consiste em 6 músicas, e uma versão demo, que utilizam de batidas eletrônicas e sintetizadores para criar uma atmosfera de psicodelia. É um disco que faz sentido na sequência de Tara e Tal, mas que se configura como uma nova abordagem para as músicas de pistas de dança.
Hoje, no Brasil, não há ninguém fazendo música parecida com o jeito que Duda Beat faz, por isso que ela é um nome singular no cenário atual. É possível perceber influências nessa nova fase da cantora com nomes como o Noporn, duo de música eletrônica que ganhou notoriedade na cena underground em 2006 depois do disco de estreia autointitulado.
O destaque do projeto da pernambucana vai para as faixas em colaboração com a Ajuliacosta e o TZ da Coronel, respectivamente nas faixas, Você Vai Gostar e Nossa Chance. Na faixa com o rapper, Duda diz: “E aí quando você foi embora, Eu não sabia mais o que fazer, Jogamos nossa chance fora, Queria te viver porque eu imaginei”.
Enfim, muitos outros projetos de qualidade foram lançados este ano, discos como o da Marina Sena, Potyguara Bardo, Candy Mel, Rubel, Flerte Flamingo, Gaby Amarantos, Jup do Bairro, Katy da Voz e as Abusadas e Davi Sabbag, são alguns nomes de destaque de 2025. Porém, esses destrinchados ao longo da coluna foram os meus favoritos do ano e espero ter conseguido convencê-los a dar uma chance em pelo menos um desses novos discos.







