Tá tudo bem: não é romantizar o divórcio, é abraçar a inconstância da vida!

  • Laís Sousa

                                           

                                                                                                                   Foto: Estadão

O mês de setembro é um marco da conscientização da saúde mental, contra o suicídio, e, pasmem, talvez separação tenha se mostrado um passo na direção de preservação da vida.

Pois é, após William Bonner e Fátima Bernardes não me lembro de separações promoverem uma sequência de “reboliço” social tão grande. Cabelinho puxou a fila com traição a ponto de MC Daniel se defender que não é só por isso que um relacionamento acaba. O término de Paula Fernandes pareceu um tanto quanto indiferente para o povo, enquanto Ana Castela e Gustavo Mioto precisaram apagar a chance de reatar do imaginário popular.

Mas nada, nada foi tão explorado quanto a separação da (pobi que nunca teve paz) Sandy, dessa vez com Lucas Lima. Não se trata de seguir carreiras solo, como ocorreu com a dupla que compunha com o irmão, Júnior, mas de mudar a forma de parceria de um casamento.

Sem que tenhamos conhecimento de como, quando e o que motivou a decisão do término, o comentário que mais li foi algo do tipo: “se chegasse com essa proposta após 24 anos, eu responderia: vai dormir que amanhã é outro dia”. Chegou ao fim e ainda tem amor, carinho, respeito, ainda são uma família, tá tudo certo, existe o sentimento de gratidão pelo percurso percorrido um com o outro.… mas existem mil motivos porque um casal opta em não seguir juntos e eles (mesmo sendo figuras públicas) não têm que explicar a @ninguém.

A internet estar “infestada” é um recorte do que acontece em todo canto/casa, com opiniões que, diferente de pizza, ninguém pediu! Em sentido inverso da Luísa Sonza que, através de carta aberta lida no Mais Você, logo cedinho compartilhou a traição do Chico, quem quis se abalar e chorar mais que os envolvidos pelo divórcio ou provar através do suco de climão que foi reunir pais, irmãos e plateia no reencontro pós post informativo, precisou ficar até Altas Horas sob o comando de Serginho. Tivemos direito até a ouvir a música “areia” do ex-casal que segue a vida com uma forma de parceria diferente. Eba!

Mas o que fica disso tudo, e que eu vou me permitir não calar mesmo com boa parte das pessoas saturadas, é uma reflexão que venho tentando me conscientizar faz tempo: Nada na vida é para sempre, nem a vida, né?! Essa ideia de que a vida é uma linha reta é beeeem branca, diga-se de passagem.

De uma hora para outra “forças poderosas” nos raptaram da África e dos nossos. Mas não é só isso, é sobre o tanto que a natureza, fluida e equilibrada, nos prova constantemente que algumas coisas precisam morrer para gerar nutrição para novas coisas nascerem. Nem uma paisagem é a mesma todo dia… por que a gente seria?

A gente não vive na mesma cidade para sempre, não trabalha no mesmo emprego para sempre, não fica com os mesmos amigos para sempre, não fica com as mesmas opiniões para sempre… Se tudo muda o tempo todo, numa relação, em que cada um está mudando dentro do seu processo, é possível que em algum momento o caminho precise seguir em direções diferentes, porque a compatibilidade, a visão de futuro, os gostos… mudam, não são os mesmos, não estão mais em comum.

E “ tudo bem”, sabe?! Essa é a conscientização aqui. Desconstruir toda a carga que nos formou… de religião, de contexto social, de contos de fadas… para abraçar a impermanência e inconstância da vida e fazê-la mais saudável e menos sofrida. Entender que quando as coisas não mudam, também não melhoram, também não evoluem. “E tá tudo bem”, mesmo, de verdade. É possível estar bem, viver bem, separar bem ou separar para ficar bem. Resiliência, minha gente!

A gente está acostumado a pensar que o “dar certo” em uma relação está vinculado ao “felizes para sempre”, e esquece o feliz. Muita gente ainda considera uma tragédia, acha inaceitável que as pessoas se divorciem. Foram décadas de condenação pela igreja, preconceito e criminalização social. Ser divorciada, especialmente para uma mulher, significava “sentir na pele” que a vida seria mais dura, difícil e solitária. A pressão mental que é “desistir” ou “não conseguir fazer dar certo” o que era para durar para sempre. Mas a que custo? Não importa se o marido te roubou, te agrediu, te traiu, é mais uma carga… era preciso ficar.

Mas gente… ser forçada a ficar numa relação que não se quer mais porque a lei te obriga é uma violência, uma invasão tão grande que não deveria ser romantizada. Não se romantiza o divórcio de quem não casa com o princípio e sem a intenção de “separar por qualquer coisa”. São romantizadas as relações tóxicas, abusivas e disfuncionais em prol da manutenção da imagem da família bem sucedida.

Pior que os “traumas” de uma cabeça das crianças de pais divorciados são os filhos do abandono paterno, da agressão dentro do lar, da falta de amor, cuidado e diálogo. As famílias separadas em que os pais não deixam faltar presença e se empenham na construção de uma redoma de amor, agregando inclusive novos parceiros, são infinitamente melhores que famílias que se mantêm próximas “na força do ódio”. Toda criança precisa saber que a base de uma família não é estar sob o mesmo teto, mas ter respeito entre todos os membros.

As relações que dão certo nem sempre duram para sempre, mas em todas elas existem de fato amor, carinho, cuidado, respeito e a vontade de ver o outro crescer. E o fato é que cada um tem sua espécie de asa…

Não deveríamos (mais) cultivar tantas cobranças e expectativas sociais em torno dos relacionamentos, afinal, se relacionar com o outro, além de íntimo, é uma oportunidade individual de aprendizado e construção em conjunto, que permite a quem vive a experiência, enxergar as próprias peculiaridades refletidas no outro e que precisa de tanta, mas tanta conexão consigo mesmo.

O feminismo está ativando na mulher uma forma de amor por muito tempo soterrada: o próprio. Está trazendo poder e autonomia de exercer as próprias escolhas, inclusive sobre suas relações. Talvez eu não tenha uma parceria que fique comigo até a velhice, preciso, de verdade, parar de esperar que exista A pessoa. Talvez eu tenha várias parcerias que sejam presentes em diferentes momentos. Talvez tenha parcerias que fiquem um tempo, vão embora, depois voltem. Talvez eu tenha parcerias que durem anos e outras que durem um tempo curto demais. Mas que todas me deixem com “tudo bem” e, mesmo que não dure o tempo que eu gostaria, que dure todo o tempo que fizer sentido.

Que possamos viver as próprias vidas e fazer as próprias escolhas sem precisar da aprovação e opinião das pessoas, amém. Vamos viver Outubro em rosa, vulgo, preservando a saúde, física também!
Foto: Estadão


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

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