Em Estamos Mais do que Vivos, Nem Tosco Todo trafega pelas vielas da cena cultural underground do interior da Bahia em uma história repleta de aventuras, crítica social, humor e reflexões sobre a efemeridade da vida

Por Enlivre-se - Bianca Silva e Pedro Novaes

Nos escritos Freudianos é possível encontrar a abordagem sobre as tensões pulsionais e elas se distinguem entre pulsão de vida e pulsão de morte. Seja na busca pela unicidade do prazer, seja na reversão do que nos torna vivos pela desintegração, estar mais do que vivo é a máxima representação de quem experiencia o desatino da realidade com todas as suas nuances, como em uma explosão que transmuta todo o entorno sem anunciar as circunstâncias atenuantes da sua fugacidade.

Estamos mais do que Vivos, de Emanuel Moraes, conhecido como Nem Tosco Todo, é o romance de estreia do escritor que já tem um trabalho consagrado na cena local e nacional com suas produções musicais. Nem tem se dedicado à literatura desde a publicação da autobiografia Vagando por aí, em que descreve toda a sua experiência com o punk rock, iniciada entre meados da década de 80 e de 90, e, culmina com o surgimento da banda Cama de Jornal no início dos anos 2000.

A obra do autor conquistense é ambientada em uma atmosfera underground e a narrativa é conduzida pelos verbos e sons, com o envolvimento rítmico de Louder than words, de Pink Floyd. Glauber, o protagonista, nos conduz em um sobrevoo “mais alto que palavras” por uma história que acontece entre Mucugê, Salvador, Vitória da Conquista e Buenos Aires. Corredor da Vitória, Pelourinho, Chapada Diamantina, Ceasa de Conquista, Bar do Peu, Hostel Circus estão entre os cenários dos diálogos e ações que acontecem na rapidez do fluxo de quem se apressa para ler um bom livro ou para estar à escuta de uma produção cujos acontecimentos se perfazem no ritmo incessante dos sons-referências.

Bianca Silva ao lado de Nem Tosco Todo durante o lançamento do livro Estamos mais do que Vivos, em julho

Aliás, muitas são as referências de Glauber, “ele que não é o Rocha”, sabe muito bem que o rock na Bahia não se resume a Camisa de Vênus, Pitty e Raul Seixas. A cena é bem mais plural e tem nomes como Pastel de Miolos, Dona Iracema, Jacau, Social Freak, Injúria, Ladrões de Vinil, Renegados HC, Signista, mas o personagem pouco se habilita para discursos. A despeito disso, o trabalho de Nem Tosco Todo com a palavra remonta à musicalização de suas poesias e o artista já lançou os álbuns A Revolta dos Miseráveis (2003), Comendo lixo (2004), Nada a perder (2006) e Punk Rock conquista (2009) com a banda Cama de Jornal, além de desenvolver em paralelo o projeto Nem Tosco Todo e as Crianças sem Futuro que já produziu Padrão Geral (2018), Música Rápida para pessoas Apressadas (2019) e Berrante Descontrolado (2021), este último produzido durante a pandemia com músicas inéditas e diversas participações especiais.

Como no eterno retorno nietzschiano em que “há de se repetir o que foi vivido”, a insana viagem de Glauber trafega por amores, relações abusivas, encontros inesperados e pela tênue linha entre vida e morte. A construção ficcional de Nem pulsa, do início ao fim, uma profusão de acontecimentos que me fazem recomendá-la como um Cravinho, uma Gabriela ou uma dose da cachaça d’ O Taberneiro: bebam diretamente na fonte!

Prefaciada pelo escritor e crítico literário Nélio Silzantov, autor de BR 2466 ou a pátria que os pariu e de Desumanizados, publicada pela editora Dando a Letra, revisada por Jeff Ferreira e com projeto gráfico, editorial e diagramação de Thiago Suíten pelo Estúdio Imboré, Estamos mais do que vivos vem para manter acesa a chama da produção literária do sertão da ressaca. Brindemos!

Para saber mais e adquirir a obra, acesse: @nemtoscotodo instagram

Tosco Todo - Selo de Divulgação no Youtube

https://nemtoscotodo.bandcamp.com/album/berrante-controlado

Bianca Silva

Professora de Direito e Arte. Advogada. Membro da Rede Brasileira de Direito e Literatura (RDL). Mestre em Direito pela UFBA. Graduanda em Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. 

Pedro Novaes

Graduando em Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. 

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