QUEM PAGA O JANTAR NO PRIMEIRO ENCONTRO?

  • Laís Sousa

Foto: beard


Por Laís Sousa

Eu sabia que essa questão dividia opiniões, mas essa semana foi retomada com força após viralizar nas redes sociais uma declaração em que o Caio Castro fala do seu incômodo, enquanto homem hetero, quando pagar a conta no date vem como uma obrigação a partir do comportamento e expectativa da mulher. 

Da fala, várias interpretações, ou falta dela. Na íntegra foi dito: "Tem diferença entre pagar a conta e TER que pagar; me incomoda a sensação de TER que sustentar, ter que pagar". Não consigo entender que sustentar se resuma a um jantar e nem me coloco como porta-voz para esclarecer o que ele quis dizer, mas também me causou incômodo…

A mídia disse: haja rebu. E houve! Um prato cheio até para os memeiros que levaram para o lado “mão de vaca” do ator. Como consequência, homens que concordam - seja por falta de dinheiro, de cavalheirismo ou de obrigação mesmo -, curtiam falas que lhes convinha sem se comprometer, enquanto o universo feminino se dividiu e fragmentou como adora a péssima e velha sociedade…

Não faltaram posicionamentos, declarações e respostas femininas, das mais defensivas como “o dia que um macho pagar um jantar pra mim e falar que tá me bancando, eu faço o pix com o valor triplicado pro mendigo”, às mais perigosas como “a regra é clara: convidou, paga”. Teve quem nem via DEFEITO em Caio e encontrou. Defeito. Sério?!

Isso me fez pensar que o fato de o homem ter que ser o provedor e se sentir obrigado a pagar a conta é uma imposição social que tem a mesma origem do homem ficar num lugar de conforto enquanto mulheres se desalinham: machismo. Num movimento de interesse de ambas as partes - “pagar e ser recompensado” ou “desfrutar sem custo” - homens e mulheres reproduzem uma lógica prejudicial, trajada de romântica, que não merecia empenho em ser conservada. 

Se formos levar em consideração que há um longo caminho a trilhar em relação a equiparação salarial, uma vez que homens ganham até 40% a mais para exercer a mesma função, seria aceitável a reparação. Porém, melhor que se sentir no dever de pagar o jantar é despertar a consciência, se perguntar se a colega de profissão está ganhando menos e entender que isso não é pontual. Isso deve incomodar muito! 

Para se sustentar, mulheres enfrentam constantemente situações econômicas desiguais quando até o valor cobrado por produtos e serviços estéticos femininos chega a ser  12,5% maior no mercado. A produção é opcional, mas arcar a expectativa da beleza não é…

Resumir a problemática ao pagamento de uma refeição perde de vista que alimentar essa obrigação de arcar despesas sempre rendeu a sensação de aquisição e posse à construção do masculino. No jantar, um aval para a expectativa de que, após encontro pode esperar uma compensação, o que dá a conquista uma espécie de valor monetário. Além disso, quando um homem não tem condições de bancar um bom jantar, a auto-cobrança lhe levará a pensar que só consegue uma parceira quem pode oferecer conforto, e isso tem um sofrido preço. O combinado não sai caro, mas carregar o título de “interesseira” é pesado.

Uma mulher não precisa depender de um homem para desfrutar um bom jantar. Com autonomia, independência e liberdade ela pode aceitar ou não um convite, participar da despesa, acatar ou recusar uma gentileza e mudar de ideia sobre o que ela decidiu para aquele encontro. Isso não tem custo nem é negociável, no jantar e na vida! 

Em meio a tudo isso, vivenciamos o revolucionário “estilo americano” que nos convida a partilhar recursos para que bons momentos aconteçam. Sejam eles aniversários, chá de fralda e tantos outros eventos, cada um cede como pode e não pesa para ninguém.

Porque justamente um date entre homem e mulher tem que vir carregado de tabu? O valor está no encontro, relações não dependem de convenções, convenção não é questão de educação e gentileza nunca será uma exigência ou obrigação.   

Uma atitude generosa merece todo seu prestígio, mas independe do vínculo. Hoje, em um dos tantos Dia do Amigo, eu não vou pagar por convidar, mas tenho interesse em dividir a conta de nem que seja de um lanche.

Depois a gente pode escutar o ep. da eterna rainha Marília Mendonça, arriscar a coreografia da top global Cadelinha de Luiza Sonsa, vibrar pela merecidíssima homenagem que o ícone  Rita Lee receberá no Grammy Latino e ainda assistir Barba, Cabelo e Bigode na Netflix. Topa?! Certeza que até para o Caio Castro um encontro desses não tem preço…

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Sobre a autora: Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas vagas e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e comentarista por esporte sorte. Vamos fugir!

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Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
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