Femicídio diário: acorda, Brasil!

  • Júnior Patente
  • Atualizado: 10/12/2025, 11:03h

A violência contra as mulheres no Brasil não é um acidente isolado, mas uma crise epidêmica enraizada em estruturas machistas impostas pela colonização portuguesa, que subjugou povos indígenas e africanos escravizados, tratando seus corpos como territórios de conquista e controle. Em 2025, 3,7 milhões de brasileiras sofreram violência doméstica ou familiar, com quase 60% enfrentando agressões recorrentes nos últimos seis meses; mais de 1.075 feminicídios ocorreram de janeiro a setembro, além de 2,7 mil tentativas, equivalendo a mais de quatro mulheres assassinadas por dia. Esses números, confirmados por dados oficiais do Ministério das Mulheres e Fórum Brasileiro de Segurança Pública, representam vidas interrompidas – 1.177 feminicídios e 2.990 tentativas em dez meses recentes, ou quatro mortes e 14 tentativas diárias –, mas são apenas a ponta do iceberg de uma dor multifacetada que inclui agressões físicas, psicológicas, assédio moral, sexual, patrimonial e institucional.​

Além da brutalidade física, que em 2024 registrou 1.450 feminicídios e 2.485 homicídios dolosos contra mulheres (mortes a cada 17 horas, apesar de queda de 5,07% ante 2023), crescem violências invisíveis: 38.507 casos de violência psicológica em 2023 (alta de 33,8%), 258.941 agressões domésticas (aumento de 9,8%) e importunações sexuais subiram 48,7%. Mulheres são minadas em sua autoestima, isoladas, vigiadas e despojadas de autonomia, com assédio nas ruas, trabalho e redes digitais criando insegurança constante. Essa irracionalidade de homens violentos, despreparados e machistas – que veem a mulher como propriedade para descarga de frustrações – destrói famílias e sociedades, ocorrendo muitas vezes perante crianças.​

Desde a invasão portuguesa em 1500, a cultura europeia branca impôs dominação truculenta: subjugou povos originários, estuprando mulheres indígenas para afirmar controle, e, a partir de 1550, escravizou 4,8 milhões de africanos, submetendo mulheres negras a violência sistemática em "fazendas de reprodução" para multiplicar mão de obra. Esse machismo exacerbado, mais violento que na Europa pela minoria colonizadora, enraizou misoginia, homofobia e superioridade masculina branca via chicote e espingarda, normalizando subjugação racial e de gênero que persiste hoje.​

Avanços como a Lei Maria da Penha (2006) e a tipificação do feminicídio (2015, autonomizada em 2024) esbarram em instituições machistas, revitimização e lentidão judicial. Para romper esse legado, urge educação igualitária desde a infância, redes de apoio com abrigos e autonomia econômica, reeducação de agressores, mudança cultural na mídia e políticas contra o racismo que vitima mais negras e indígenas. Os números são um grito: cada feminicídio rouba uma filha, mãe, amiga. Denunciar é dever de todos – basta de indignação pontual; construamos um Brasil onde mulheres vivam livres da herança colonial de violência.

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