Cine Madrigal, Teatro Carlos Jeovah e Casa Glauber Rocha esbarram na falta de verba para revitalização e Vitória da Conquista ainda não conseguiu desatar os nós para a reforma

Foto: Danilo Souza
  • Thaty Miranda
  • Atualizado: 26/02/2024, 12:27h

Matéria exclusiva da Mega Rádio. Reprodução mediante autorização

Sem perspectiva de revitalização a curto e médio prazos, equipamentos para promoção de cultura de Vitória da Conquista permanecem fechados. Associação e poder público discutem revitalização e abertura do Cine Madrigal, Teatro Carlos Jeovah e Casa Glauber Rocha, mas ainda falta recurso para projetar os restauros necessários. O que existe atualmente são projetos aguardando em suplência nos editais da Lei Paulo Gustavo e um esforço na busca de receita através de emendas parlamentares.

Esses três equipamentos têm uma importância simbólica muito grande para o município. Cinema e teatro se entrelaçam aqui para o fomento e reconhecimento da Cultura não só em seus respectivos prédios, mas também como uma homenagem a pessoas que ajudaram a construí-los. O Cine Madrigal, como espaço cultural e de socialização marcou Vitória da Conquista por quase quatro décadas, assim como a Casa Glauber, local que gestou o cineasta Glauber Rocha, principal referência da cidade, e o Teatro Carlos Jeovah, que além de levar o nome do icônico poeta e escritor, também foi a casa de apresentação de importantes grupos de teatro.

Cine Madrigal

O Cine Madrigal foi, durante trinta e nove anos, (1968 a 2007), o principal cinema de Vitória da Conquista, no Sudoeste da Bahia, proporcionando lazer, colaborando na formação cultural do público e contribuindo para a economia local. O equipamento foi adquirido pela Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista em 2015, mas segue fechado, necessitando de reforma.

O cineasta, produtor e roteirista, Daniel Leite Almeida, que produziu e dirigiu Alice dos Anjos, filme mais premiado do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB) em 2021, com seis Candangos, e também presidente da Associação do Setor Audiovisual do Sudoeste da Bahia (SASB) falou à reportagem da Mega Rádio VCA sobre a proposta de revitalização do Cine Madrigal.

No ano passado houve uma reunião da SASB com a Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, de Vitória da Conquista (SECTEL), com a Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB) e com a Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado da Bahia (DIMAS) para discutir as demandas do equipamento e do setor audiovisual. Entre as propostas estava a utilização da Lei Paulo Gustavo para custear a revitalização do cinema.

Na ocasião, a SASB solicitou que todo o recurso do Inciso II, do artigo 6°, da Lei Paulo Gustavo (LGP), com valor de aproximadamente R$ 330 mil recebido pelo município, fosse todo aplicado no Cine Madrigal. “A Prefeita Sheila Lemos se comprometeu a atender o pedido” afirmou Daniel. Contudo, o valor destinado ao município ainda é insuficiente para a obra. O Governo do Estado, que segundo o cineasta, poderia até arcar sozinho com a reforma, não teve o mesmo comprometimento da Prefeitura.

Sem orçamento suficiente para a revitalização, a Associação submeteu o projeto “Madrigal em movimento” ao edital estadual da Lei Paulo Gustavo. O projeto não foi selecionado num primeiro momento, mas está como suplente. Daniel explica, ainda, que quanto aos recursos da LPG, o Estado recebe um valor e a prefeitura, outro. “E mesmo se o projeto submetido ao edital fosse selecionado, seria necessário um recurso extra para a restauração do cinema”, destaca o cineasta e produtor.

Agora a SASB vai recorrer aos deputados baianos para que se unam e formem uma bancada. “Como fizeram para reformar o Teatro Castro Alves, em Salvador” lembra Daniel. Assim, por meio de emenda parlamentar, a Associação do Setor Audiovisual do Sudoeste da Bahia visa beneficiar não mais somente ao Cine Madrigal, mas também à Casa Glauber Rocha e ao Teatro Carlos Jeovah.

Fachada do antigo Cine Madrigal. Foto: Danilo Souza

Teatro Carlos Jehovah

O Teatro Carlos Jehovah, localizado na Praça da Bandeira, no mesmo edifício onde funciona o Mercado Municipal de Artesanato, foi fundado em 1982. Em formato de arena, tem capacidade para receber pouco menos de 100 pessoas. Atualmente está fechado.

O Coordenador de Cultura do Município, Alexandre Magno, conversou com a nossa reportagem e explicou que o equipamento foi interditado pelo Corpo de Bombeiros, que emitiu uma notificação para a Prefeitura, solicitando uma adequação de segurança. Há vazamentos no telhado, que é muito antigo, e também existem problemas com a instalação elétrica. De acordo com o coordenador, o secretário de Cultura de Vitória da Conquista, Xangai, e a administração municipal vêm buscando meios para que a manutenção do equipamento seja feita o mais breve possível.

Para Kétia Prado, mestre em Cultura e Sociedade pelo Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade, do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e produtora da Companhia Operakata de Teatro desde 2011, o Teatro Carlos Jehovah era o lugar mais democrático para os artistas de Vitória da Conquista, principalmente para os atores da cena.

“É um útero de artes cênicas. Um espaço pequeno, intimista, no centro da cidade, no formato de arena. Poucos teatros do Brasil possuem esse formato hoje”, destaca Kétia.

O equipamento leva o nome de Carlos Jehovah, poeta e escritor, o que na opinião da produtora é uma homenagem mais que merecida, pois o artista foi uma pessoa que fez políticas públicas na cidade quando ainda não existia esse pensamento. Ela lembra que a estrutura de caixa preta que hoje conhecemos do teatro foi uma projeção do arquiteto teatral e cenógrafo José Carlos Serroni e rememora alguns dos espetáculos que produziu e que foram apresentados no Carlos Jehovah, como Dona Dó, Re, Mi; O Miado do Leão; Estatura da Alma; Nós e o Circo de Soleinildo, além das oficinas que a Companhia Operakata realizou, contribuindo para o fomento ao teatro e para a formação de novos profissionais.

“Assim como diversos grupos e artistas, também temos memórias muito boas e emocionantes daquele e naquele espaço”, diz a produtora.

O projeto intitulado “Reforma e revitalização do Teatro Municipal Carlos Jeovah”, inscrito pelo servidor-técnico da secretaria de Cultura de Vitória da Conquista, Gilmar Dantas, ficou como suplente no resultado final do edital da Lei Paulo Gustavo, na categoria Espaços de Exibição I, que destinará cerca de R$ 600 mil para três projetos contemplados.

Há também uma boa expectativa da secretaria de Cultura de Vitória da Conquista em relação à Lei Aldir Blanc, outro instrumento Federal para a cultura, que será disponibilizado para todos os municípios do país ainda este ano. Contudo, não existe previsão de valor, pois o plano de ação enviado pela prefeitura depende, agora, da regulação do Ministério da Cultura.

Lateral do Teatro Carlos Jeovah, na Praça da Bandeira. Foto: Danilo Souza

Casa Glauber Rocha

Ainda sobre a Lei Paulo Gustavo, o coordenador de Cultura de Vitória da Conquista, Alexandre Magno, destaca que vários projetos municipais do interior não foram contemplados, com isso houve uma centralização de recursos na capital. A mesma queixa fez o cineasta e produtor Daniel Leite Almeida.

Em tom de desabafo, Alexandre Magno lembra que a Bahia não é apenas Salvador. Segundo o coordenador, o secretário de Cultura do Município, Xangai, tem conversado com a ministra da Cultura, Margareth Menezes, solicitando receita para o Cine Madrigal e para a Casa Glauber Rocha, que a gestão municipal pretende transformar em um memorial em homenagem ao cineasta conquistense, para que as pessoas possam visitar e conhecer a história do artista.

O município ainda não obteve retorno do Ministério da Cultura. “A Casa de Glauber Rocha é um equipamento importantíssimo”, pontua o coordenador. “Glauber Rocha é um cineasta de Vitória da Conquista, que nasceu nessa casa e é um cineasta do mundo”. A casa onde Glauber Rocha nasceu fica no centro da cidade, na rua 2 de Julho. 

Um projeto também foi protocolado e encaminhado ao deputado federal Arthur Maia (União Brasil), por intermédio do vereador Luís Carlos Dudé. De acordo com o coordenador, Maia se comprometeu a ajudar com recursos, mas até o momento não houve resposta do deputado quanto à emenda parlamentar.

Frente da casa onde o cineasta Glauber Rocha nasceu, na rua 2 de Julho. Foto: Danilo Souza.

 

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